Athos Bulcão, o artista que com suas pinturas transformou Brasília numa galeria a céu aberto, é o tema do desfile de Ronaldo Fraga, que acontece nesta segunda-feira (31) na São Paulo Fashion Week, no Parque do Ibirapuera.
“Pesquisei a produção de Athos dos anos 50, quando atuou em parceria com Oscar Niemeyer, até os desenhos que fez quando passou a sofrer do Mal de Parkinson”, conta o estilista, que acabou descobrindo trabalhos inéditos do artista plástico, principalmente de seus últimos anos de vida.
“Ele olhou para a cultura brasileira desenhando-a de uma forma abstrata e concreta, ilustrando a arquitetura de Niemeyer com os arlequins e colombinas do carnaval carioca”, diz Ronaldo. Para ele, a generosidade de Athos é digna de admiração, já que o artista sempre optou por expor sua arte no espaço público, “sem nenhum pudor de colocar sua arte nos hospitais, nas escolas”.
Na coleção “Athos do início ao fim” estão o laranja, que o estilista chama de tangerina, o azul, o concreto, o preto e, principalmente, o “olhar de criança que Athos imprime no concreto modernista”. Uma das atrações do desfile é o jacquard reproduzido a partir de uma foto de 1918 do carnaval carioca, que representa as “lembranças de infância de Athos Bulcão”, segundo Fraga.
Exposição sobre Rio São Francisco
Além do desfile na semana de moda paulistana, o estilista está trazendo para São Paulo a exposição “Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga: cultura popular, história, moda”, que estreia dia 17 de março no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, seguindo em junho para o Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.
A exposição, que teve 42 mil visitantes no Palácio das Artes em Belo Horizonte, não é, segundo Ronaldo Fraga, apenas para fashionistas ou designers, mas para todos aqueles interessados na nossa cultura e apaixonados pelo chamado “Velho Chico”, terceiro maior rio do país, com 100% do seu percurso em terras brasileiras. O São Francisco já serviu de inspiração para Fraga na criação de sua coleção de verão de 2008.
O espaço terá dez ambientes interligados por um percurso que lembra o interior do vapor Benjamin Guimarães, construído em 1913, tombado como patrimônio e único do modelo em funcionamento no mundo. “É como se o visitante passeasse pelo convés do Benjamin Guimarães descobrindo as histórias do Rio. Você abraça os vestidos da coleção e ouve o poema ‘Águas e magoas do Rio São Francisco’, escrito em 1977 por Carlos Drummond de Andrade e declamado por Maria Bethânia.”
Vídeo de Wagner Moura é destaque
Um dos destaques do projeto é um vídeo dirigido pelo ator Wagner Moura, que nasceu em Rodelas, uma das muitas cidades da região que sumiram para dar lugar a hidrelétricas. A família do ator foi uma das últimas a deixar o local. “No vídeo, ele fala dessa infância e dessa cidade que não existe mais”, conta Ronaldo, que afirma com orgulho que a exposição é o primeiro projeto que combina moda e cultura aprovado pela Lei Rouanet, no âmbito do Ministério da Cultura.
Fonte: G1